A linguagem poética nos encanta porque nos apresenta um mundo novo. Quando lemos um poema e somos verdadeiramente tocados por ele, ocorre algum tipo de encontro – que é surpresa e libertação. Instante isolado no tempo: na leitura do poema, um mistério é proposto e resolvido; uma ideia acende e apaga; a palavra se transforma.

The Concert (1957), Marc Chagall
Historicamente, sempre foi difícil definir quais elementos ou recursos tornam um texto poético. Mais difícil ainda é pontuar o que dá qualidade a um texto poético qualquer. Nessa breve postagem, falarei sobre certas sutilezas da poesia nos diferentes níveis da língua. Considerarei aqui que o poema é um texto diferente dos demais, já que nele tudo parece possível: uma palavra assume o sentido de outra, um termo passa a exercer nova função sintática, contradições e absurdos se apresentam… Tudo, enfim, conflui para que a lógica da língua seja subvertida.
Levaremos em conta também que o que o poema diz, em linhas gerais, não importa. Importa como o poema diz, já que ele costuma dizer, de fato, o que não é dito. Citando letra de Gilberto Gil, “uma meta existe para ser um alvo, mas, quando o poeta diz ‘meta’, pode estar querendo dizer o inatingível”.
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